Protesto de empresários busca chamar atenção para crise no setor, agravada por importações e falta de incentivos

Nesta terça-feira (3/6), pelo menos 18 siderúrgicas de Sete Lagoas e região suspenderão suas atividades por 12 horas, das 6h às 18h, em um protesto contra a crise que afeta a siderurgia nacional. A mobilização é liderada por empresários do setor, que denunciam a entrada facilitada de produtos importados e a ausência de políticas públicas de incentivo como fatores agravantes da situação.
Segundo o empresário Willian Reis, um dos organizadores do movimento, a paralisação é um alerta sobre os preços praticados no mercado, considerados abaixo do custo de produção, além da escassez de linhas de financiamento e incentivos fiscais. “A principal intenção do movimento é mostrar a dificuldade que o setor vem passando. A paralisação de 12 horas demonstra que o setor está se unindo”, afirma.
Durante o período de paralisação, estima-se que cerca de 2.500 toneladas de ferro gusa — matéria-prima usada na fabricação do aço — deixarão de ser produzidas, representando um impacto econômico de aproximadamente R$ 5 milhões. Reis também alerta para o risco de demissões nos próximos meses caso o cenário não mude. “Entende-se que, a partir do mês que vem, haverá um problema muito sério em relação às demissões. Na próxima etapa [do movimento], talvez comecemos a discutir sobre quantos dias de produção reduziremos”, ressalta. Em Sete Lagoas, o setor emprega diretamente cerca de 5 mil pessoas.
O protesto ocorre em meio a um contexto de forte concorrência com o aço importado, especialmente da China, cujo governo subsidia a indústria local, reduzindo artificialmente os preços. A pressão sobre os produtores nacionais tem crescido desde 2022. Segundo o Instituto Aço Brasil, as importações de aço aumentaram 27,5% nos quatro primeiros meses de 2025, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Na última semana, o governo federal renovou uma medida que impõe cotas para a importação de aço, com aplicação de tarifas mais altas para volumes excedentes. Contudo, a iniciativa é vista como insuficiente pelo setor. “O que o governo tem feito tem sido muito frágil”, avalia Reis.
Outro fator que pode impactar o setor brasileiro é o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que prometeu dobrar a tarifa de importação de aço no país, chegando a 50% ainda em junho. Para os empresários, a medida pode favorecer a exportação de ferro gusa, mas também aumentar a entrada de produtos acabados no Brasil, o que traria ainda mais concorrência às siderúrgicas nacionais.
“Acredito que se essas taxas realmente se mantiverem, o preço do gusa poderá melhorar, devido ao fortalecimento da indústria americana. Mas para o mercado interno, pode ocorrer maior entrada de produtos acabados competindo com nossas aciarias”, finaliza Reis.
Fonte: Megacidade